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Bichos Pequenos

Era Segunda-Feira de manhã e ele, em frente ao espelho, apertou bem o laço e penteou as pestanas no alto de cada antena.

Já estava na hora de sair, o caminho até ao escritório era longo e nunca sabia os perigos que o esperavam.


Do outro lado da rua ela chegava desejosa de aterrar no conforto da sua cama.

Tinham um horário muito diferente, ela trabalhava por turnos, mas às segundas-feiras de manhã já era habitual cruzarem-se, nem que por breves momentos, no pátio entre os prédios.


A formiga chegava por vezes muito desanimada, tinha um trabalho muito duro e extremamente perigoso, sobretudo na cidade dos humanos. Aos olhos deles e na azáfama de chegarem eles mesmos aos seus empregos, um carreiro de formigas não passa de uma linha quase invisível no chão. Assim perdiam a vida muitos dos colegas da formiga, apenas por falta de tempo para tomar atenção.

O Caracol tinha sempre uma palavra amiga para ela nestes dias difíceis. Afinal ele próprio corria riscos semelhantes no trajeto entre a sua casa e o escritório. Um caracol ainda que fique mais à vista de um humano, não é rápido o suficiente para se desviar do ritmo turbulento da cidade.


Ambos sonhavam em ir viver para o campo e desfrutar de uma vida mais lenta.

Uma vida daquelas em que há tempo para observar as estações do ano com calma e reparar como cresce a fruta nas árvores.


Uma vida daquelas em que há tempo para parar e ajudar um caracol assoberbado que foi parar ao meio do caminho, ou simplesmente redirecionar o trajeto para não intercetar um carreiro de trabalhadoras formigas.



 
 
 

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